- Renilton Aquino
- 22 de abr.
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Enquanto o mundo automotivo debate a viabilidade dos veículos elétricos diante dos desafios de infraestrutura e custo, um empreendedor brasileiro propõe um caminho alternativo. Flávio Figueiredo Assis, engenheiro e empresário do interior do Espírito Santo, apresentou recentemente um protótipo que pode redesenhar o futuro da mobilidade sustentável no Brasil: o Lecar 459, um híbrido flex com promessa de autonomia surpreendente.
O diferencial? Este carro percorre até 1.000 quilômetros com apenas 30 litros de etanol – o equivalente a impressionantes 33,3 km por litro. E mais: não depende de estações de recarga elétrica, pois seu motor elétrico é alimentado por um sistema gerador a combustão que opera com etanol ou gasolina.
Segundo o idealizador, a proposta é unir o melhor dos dois mundos: a eficiência e o torque instantâneo do motor elétrico com a praticidade do abastecimento tradicional. "Nosso objetivo foi criar um carro limpo, acessível e adaptado à realidade brasileira, onde o etanol é uma fonte renovável e amplamente disponível", explica Assis.
Fábrica no Coração do ES
A produção do Lecar 459 está prevista para ocorrer em uma moderna unidade industrial em construção no município de Sooretama, no norte do Espírito Santo. A cidade, localizada a cerca de 119 km de Vitória, abriga um terreno de 440 mil metros quadrados que será sede da nova montadora nacional. A localização estratégica, próxima à BR-101, ao Aeroporto de Linhares e ao Complexo Portuário do estado, favorece a logística e distribuição.
Com investimento estimado em R$ 870 milhões, a planta terá capacidade de produzir até 120 mil veículos por ano e deve gerar cerca de 1.500 empregos diretos e outros 3.000 indiretos. A previsão é que a produção comece em agosto de 2026.
Tecnologia Sem Tomadas
O Lecar 459 adota uma arquitetura onde o motor a combustão atua exclusivamente como gerador – semelhante ao conceito de veículos elétricos com extensor de autonomia (range extender), mas com foco no combustível renovável nacional. Isso elimina a necessidade de longas esperas em carregadores e torna o modelo especialmente atrativo em regiões onde a infraestrutura para carros elétricos ainda é incipiente.
Esse conceito não é novo em mercados internacionais, mas ainda é inédito em produção nacional com foco no etanol como principal fonte de energia. O protótipo está em fase final de testes e a previsão é que a produção comece em 2025, com entregas iniciais no ano seguinte.
Solução Brasileira para Desafios Locais
O lançamento do Lecar 459 vem em um momento estratégico, com o Brasil enfrentando os dilemas da eletrificação em massa – desde os altos preços de automóveis elétricos até a baixa capilaridade de estações de recarga. A proposta de Assis busca preencher essa lacuna, oferecendo uma opção mais acessível e sustentável, sem depender de mudanças drásticas na infraestrutura atual.
Especialistas em mobilidade enxergam potencial no projeto. “Se o desempenho for comprovado e o custo competitivo, pode ser um divisor de águas para o mercado de híbridos no Brasil”, avalia Mariana Guedes, consultora de inovação automotiva.
Desafios pela Frente
Apesar do entusiasmo, o caminho até as ruas não será simples. A Lecar ainda precisa enfrentar as exigências de homologação, estabelecer parcerias industriais e convencer um mercado cada vez mais exigente. Além disso, precisará concorrer com grandes montadoras que já atuam no segmento híbrido.
Mas Assis mantém o otimismo. “Estamos construindo algo que é 100% brasileiro, pensado para o nosso povo e nossas necessidades. Acreditamos que o futuro da mobilidade pode ser limpo, mas também prático e econômico.